A transição de uma cultura da explicação para uma cultura da autonomia confronta-se desde logo com os hábitos de passividade e dependência que os alunos adquiriram ao longo da sua vida escolar. Para eles, a cultura da explicação é a normalidade, e a normalidade deve continuar. Em condições normais, seria impossível alterar este status quo. Acontece que não vivemos condições normais. Como apontam vários autores, o período de pandemia que vivemos é um “teste de stress” à capacidade das sociedades para confrontaram os desafios de um século que insistem em não reconhecer como distinto do passado. Em domínios chave como o trabalho, a saúde pública e a educação, as fragilidades reveladas são de monta. Nada seria mais grave do que regressarmos à normalidade sem resolver essas fragilidades e termos de as confrontar mais tarde, porventura muito ampliadas, já nas próximas crises do século.
O que se impõe na escola para a autonomia não é uma reforma dos currículos, mas uma reforma das pedagogias. A reforma das pedagogias levará certamente à adaptação dos currículos, mas o essencial da mudança está nas pedagogias. Tratando-se de práticas conhecidas, embora ainda pouco aplicadas, seria catastrófico que perdêssemos esta oportunidade para, pela sua incorporação no sistema, criarmos uma escola capaz de preparar as próximas gerações para aprenderem a aprender, fazer, conviver, ser, pensar, poder, empreender e transformar. Uma escola que criasse autonomia em vez de dependência. Uma escola que capacitasse os jovens da próxima geração para assumirem autonomamente a construção do seu próprio destino e de um mundo melhor.
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