quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A cultura da autonomia nas escolas

A transição de uma cultura da explicação para uma cultura da autonomia confronta-se desde logo com os hábitos de passividade e dependência que os alunos adquiriram ao longo da sua vida escolar. Para eles, a cultura da explicação é a normalidade, e a normalidade deve continuar. Em condições normais, seria impossível alterar este status quo. Acontece que não vivemos condições normais. Como apontam vários autores, o período de pandemia que vivemos é um “teste de stress” à capacidade das sociedades para confrontaram os desafios de um século que insistem em não reconhecer como distinto do passado. Em domínios chave como o trabalho, a saúde pública e a educação, as fragilidades reveladas são de monta. Nada seria mais grave do que regressarmos à normalidade sem resolver essas fragilidades e termos de as confrontar mais tarde, porventura muito ampliadas, já nas próximas crises do século.

O que se impõe na escola para a autonomia não é uma reforma dos currículos, mas uma reforma das pedagogias. A reforma das pedagogias levará certamente à adaptação dos currículos, mas o essencial da mudança está nas pedagogias. Tratando-se de práticas conhecidas, embora ainda pouco aplicadas, seria catastrófico que perdêssemos esta oportunidade para, pela sua incorporação no sistema, criarmos uma escola capaz de preparar as próximas gerações para aprenderem a aprender, fazer, conviver, ser, pensar, poder, empreender e transformar. Uma escola que criasse autonomia em vez de dependência. Uma escola que capacitasse os jovens da próxima geração para assumirem autonomamente a construção do seu próprio destino e de um mundo melhor.

E agora, Escola?

E agora?

Alguns, advogam um “regresso à normalidade”, opção impossível e indesejável. Libertaram-se energias que não conseguimos colocar de novo dentro da caixa. E, de todas as formas, não seria desejável voltar a rotinas desinteressantes.

Outros, aproveitam a oportunidade para explicar que “tudo vai mudar”, rapidamente, com a desintegração das escolas e a transição para o digital. Na verdade, esta solução já era defendida, pelo menos desde a viragem do século, em discursos de “personalização” das aprendizagens, cientificamente legitimados pelas neurociências e com recurso à inteligência artificial.

Não me revejo nessas opções. Defender o imobilismo da “normalidade” é o pior serviço que podemos prestar à educação pública. Sustentar o confinamento, para sempre, da educação em espaços domésticos ou familiares seria abdicar de uma das mais importantes missões da escola: aprender a viver com os outros.

Acreditar que nada vai mudar ou que tudo vai mudar rapidamente são duas ilusões igualmente absurdas. Em educação, as mudanças são sempre longas, fruto do trabalho de várias gerações.

O recurso ao digital não é inocente, pois este “meio” influencia o acesso e a organização do conhecimento. Para além disso, o seu uso público é condicionado por ser controlado pelas grandes empresas privadas. Torna-se urgente assegurar o acesso de todos ao digital e valorizar o software livre, universal e gratuito. Mas a questão essencial nunca é sobre os instrumentos, é sempre sobre o sentido da mudança.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

domingo, 23 de agosto de 2020

O Homem Duplicado

Li e gostei.
Um livro que nos surpreende quer pelo desenrolar da história, quer pelo questionamento, constante, da mente humana. No seu tom coloquial, o narrador vai avisando o leitor das novidades que irá encontrar.

"Tertuliano Máximo Afonso, professor de História no ensino secundário, «vive só e aborrece-se», «esteve casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio, divorciou-se e agora não quer nem lembrar-se dos motivos por que se separou», à cadeira de História «vê-a ele desde há muito tempo como uma fadiga sem sentido e um começo sem fim». Uma noite, em casa, ao rever um filme na televisão, «levantou-se da cadeira, ajoelhou-se diante do televisor, a cara tão perto do ecrã quanto lhe permitia a visão, Sou eu, disse, e outra vez sentiu que se lhe eriçavam os pelos do corpo».

Depois desta inesperada descoberta, de um homem exatamente igual a si, Tertuliano Máximo Afonso, o que vive só e se aborrece, parte à descoberta desse outro homem".

sábado, 22 de agosto de 2020

Prece - Fernando Pessoa

A Besta

Li e gostei.
É importante conhecer histórias da Camorra menos conhecidas, menos mediáticas.

O testemunho real e emocionante de familiares e amigos das vítimas.
Há anos que o jornalista Raffaele Sardo insiste em contar aquilo que é perigoso contar. Neste livro fala das vítimas, das vidas roubadas por um poder maldito e implacável e da dor dos sobreviventes, os familiares e os amigos.


quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Recuperação das aprendizagens


Gato que brincas na rua

A Dama do Quimono Branco

Li e gostei.
Acabei de ler "A Dama do Quimono Branco" é o terceiro volume da trilogia iniciada com "Samurai Negro", também já lido.

A saga dos Fonsecas de Nagasáqui e dos Vicenzo de Roma conclui-se nesta obra que encerra a Trilogia do Samurai Negro. A cristandade japonesa caminha para o seu destino fatal, enquanto do outro lado do mundo, o Brasil vai-se afirmando como uma terra do futuro, promissora para os colonos, e, nesse primeiro tempo, sobretudo para os que têm a sabedoria de se entenderem com os indígenas.

Nessas terras onde o Sol nunca se põe, os mestiços têm um papel fundamental na sedimentação do poder da Coroa e da Igreja, e os Fonsecas e Vicenzo percebem que em Lisboa os mestiços serão sempre subalternizados e ostracizados, mesmo sendo endinheirados.

Enquanto o tempo passa, um biombo vai sendo composto; uma mulher morta continua a despertar sentimentos de sensualidade nos homens que com ela privaram; um navio explode com estrondo; um imperador foge do palácio; a crueldade é vingada com uma crueza ainda maior, mas também há quem consiga amar e ser feliz e há um peregrino que descobre finalmente o seu lugar no mundo, sempre inspirado pela dama do quimono branco.

«Esta é uma história cujas personagens se espalham pelo mundo já globalizado do início do século xvii e que foi sendo escrita enquanto eu próprio circulava pelo mundo ganhando inspiração no contacto com a diversidade de gentes, paisagens e ambientes que preenchem este nosso maravilhoso planeta.»

domingo, 2 de agosto de 2020

O novo modelo de biblioteca após a crise do Covid-19

RBE

O tema ” Visitantes e residentes digitais ” é um conceito simples de definir, mas com muitas implicações profundas na maneira como abordamos a investigação, o ensino e o trabalho em bibliotecas.

Por exemplo, um aluno pode usar o email quase que exclusivamente para o trabalho na sala de aula e para receber mensagens do corpo docente, mas somente quando for absolutamente necessário. Para ele, essa é uma atividade de “visitante digital”. Da mesma forma, podemos usar o YouTube para estudar, fazer upload de vídeos para amigos e familiares e assistir a entretenimento e notícias. Ela se sente muito confortável com isso em todos os aspetos de sua vida. Então, você é um “residente digital” do YouTube. Muitos de nós somos híbridos; Em algumas situações, podemos ser visitantes digitais, enquanto em outras situações somos residentes digitais.