Jorge Luís Borges via o paraíso como uma espécie de biblioteca – e eu diria que, para quem adora ler, nada é mais natural (e que, abstraindo dos ácaros do pó e dos peixinhos de prata – verdadeiras pragas –, todos os Extraordinários gostariam provavelmente de viver num mundo parecido com esse, cheio de livros à mão). Como será, contudo, com os que passam realmente os seus dias numa biblioteca – os bibliotecários? Uma mestranda da FCSH da Universidade Nova (na área do documentalismo) fez uma tese sobre as leituras dos bibliotecários das Bibliotecas Municipais de Lisboa – e, para mim, as surpresas foram bastante grandes. Em primeiro lugar, dos 16 entrevistados (um por biblioteca), só uma minoria falou da leitura por prazer; pelos vistos, lêem sobretudo coisas que têm que ver com a sua profissão, para se manterem informados e actualizados, mas nem todos «desfrutam» como nós de um bom romance ou ensaio, por exemplo. Em segundo lugar (talvez consequência da circunstância que acima referi), a maioria não requisita livros na biblioteca, compra-os; o que é paradoxal, mesmo que saibamos que as bibliotecas não adquirem tudo o que seria necessário e estão muito sequinhas de publicações de nicho e mais recentes (a crise não ajudou e houve anos em que não houve praticamente aquisições). Por fim, todos afirmaram ter grande disponibilidade para ler e fazê-lo diariamente (quando eu pensava que, por estarem sempre ao pé dos livros, se calhar chegavam a casa e queriam ver séries). No fundo, estamos sempre a aprender.
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