Um livro que se lê num sopro. Começa por levar o leitor a conhecer pessoas e lugares e a prepará-lo para o drama que se aproxima. Narrativa que nos leva a conhecer um Portugal profundo, abandonado e onde a esperança não existe.
Personagens ficcionadas, mas
bem representativas de um Portugal desorganizado e nada preparado para
enfrentar situações limite como esta: o incêndio de Pedrógão Grande.
Personagens que vivem mais do passado, onde foram felizes, do que do presente
que não lhes prepara um futuro risonho.
Deparamo-nos com uma escrita
esculpida da realidade, próxima de um povo que detém um conjunto de palavras e
expressões identificadoras de uma determinada região.
Trespassa na obra “O Ninho da
Cotovia”, um conjunto de temas muito portugueses: a desertificação do interior,
o abandono da família, o excesso de eucaliptos, o álcool como refúgio, a guerra
colonial, a falta de planificação, os segredos familiares, entre outros.
Em suma, uma leitura a não perder, que leva o leitor a vivenciar um momento triste da nossa existência, enquanto portugueses. A autora consegue levar o leitor a viver de perto as angústias da Teresa, do velho José, da Sãozinha, do Manel Tolo, da Ana e de muito outros. Na minha opinião, o ninho da cotovia é uma metáfora daqueles que se metem na vida dos outros, tal como o cuco ocupou o ninho da cotovia, e há aqueles, tal como o velho José, que procuram alterar as coisas, todavia acabam por desistir e acomodar-se "- o filho do cuco não tem culpa. Se apanho o pai, fornico-o".
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