domingo, 14 de novembro de 2010

Profs... a culpa é deles

Neste momento, é óbvio para todos que a culpa do estado a que chegou o ensino é (sem querer apontar dedos) dos professores. Só pode ser deles, aliás. Os alunos estão lá a contragosto, por isso não contam. O ministério muda quase todos os anos, por isso conta ainda menos. Os únicos que se mantêm tempo suficiente no sistema são os professores. Pelo menos os que vão conseguindo escapar com vida.
É evidente que a culpa é deles.
E, ao contrário do que costuma acontecer nesta coluna, esta não é uma acusação gratuita. Há razões objectivas para que os culpados sejam os professores.
Reparem: quando falamos de professores, estamos a falar de pessoas que escolheram uma profissão em que ganham mal, não sabem onde vão ser colocados no ano seguinte e todos os dias arriscam levar um banano de um aluno ou de qualquer um dos seus familiares.
O que é que esta gente pode ensinar às nossas crianças? Se eles possuíssem algum tipo de sabedoria, tê-Ia-iam usado em proveito próprio. É sensato entregar a educação dos nossos filhos a pessoas com esta capacidade de discernimento? Parece-me claro que não.
A menos que não se trate de falta de juízo mas sim de amor ao sofrimento.
O que não posso dizer que me deixe mais tranquilo. Esta gente opta por passar a vida a andar de terra em terra, a fazer contas ao dinheiro e a ensinar o Teorema de Pitágoras a delinquentes que lhes querem bater. Sem nenhum desprimor para com as depravações sexuais -até porque sofro de quase todas -, não sei se o Ministério da Educação devia incentivar este contacto entre crianças e adultos masoquistas.
Ser professor, hoje, não é uma vocação; é uma perversão.
Antigamente, havia as escolas C+S; hoje, caminhamos para o modelo de escola S/M. Havia os professores sádicos, que espancavam alunos; agora o há os professores masoquistas, que são espancados por eles. Tomando sempre novas qualidades, este mundo.
Eu digo-vos que grupo de pessoas produzia excelentes professores: o povo cigano.
Já estão habituados ao nomadismo e têm fama de se desenvencilhar bem das escaramuças. Queria ver quantos papás fanfarrões dos subúrbios iam pedir explicações a estes professores. Um cigano em cada escola, é a minha proposta.
Já em relação a estes professores que têm sido agredidos, tenho menos esperança.
Gente que ensina selvagens filhos de selvagens e, depois de ser agredida, não sabe guiar a polícia até à árvore em que os agressores vivem, claramente, não está preparada para o mundo.

Ricardo Araújo Pereira in Opinião, Boca do Inferno, Revista Visão

domingo, 31 de outubro de 2010

A autoridade do professor...

Transcrevo um excerto da entrevista de Fernando Savater à revista Atual do Expresso:
Em Portugal, os professores já perderam as suas defesas.
Em Espanha, e noutros países europeus, aconteceu o mesmo. Há uma teoria, uma tendência, que iguala os professores aos alunos e que faz com que os professores percam o respeito dos alunos. Convencionou-se que o professor tem de inspirar respeito dentro da aula. Ora, se o professor tem tanta autoridade como o aluno a aula não funciona.
Fez o prefácio do "Panfleto Anti-Pedagógico" de Ricardo Moreno Castilho, onde ele defende um modelo de professor mais autoritário e, lgo, mais antigo.
Moreno Castilho defende um modelo de professor que seja possível dentro de uma sala de aula. As aulas não são uma reunião de amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento. Toda a gente aceita e entende que um treinador de futebol dê ordens aos seus jogadores. Já o mesmo modelo numa escola parece que começou (erradamente) entendido como algo escandaloso.
Vale a pena reflectir nestas palavras de um Professor de Ética.
Fonte: Revista Atual, 30 de Outubro de 2010, Expresso

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não tenho tempo para reuniões...

O tempo e as jabuticabas

'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.' O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Falta de hábitos de estudo



Em entrevista ao EDUCARE.PT, Fernanda Carrilho, autora do livro "Métodos e Técnicas de Estudo", lembra que o início do ano lectivo é o "momento ideal" para começar a planear a forma de estudar. Chama a atenção para o erro mais comum cometido pelos estudantes: deixar "acumular matéria". E revela quais os maiores inimigos do estudo: "Falta de motivação, de objectivos, pensamentos negativos e baixa auto-estima." Aos pais, apela que incutam nos seus educandos, desde logo, o hábito de consultar o dicionário.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Acabaram os ProfessoresTitulares... Oh!!!

"A carreira docente passa a estruturar-se numa única categoria, terminando a distinção entre professores e professores titulares", refere o Decreto-Lei n.º 75/2010, que entra em vigor hoje. Mantêm-se como mecanismos de selecção, para ingresso à profissão, a prova pública e o período probatório.

No preâmbulo, o diploma recorda que as alterações agora introduzidas ao Estatuto da Carreira Docente concretizam o acordo de princípios assinado a 8 de Janeiro com as organizações sindicais do sector.

O novo Estatuto introduz ainda novas regras de avaliação de desempenho.

"Os docentes com melhores resultados na avaliação de desempenho são premiados com a progressão mais rápida, ao mesmo tempo que, por outro lado, se permite diagnosticar situações que careçam de intervenção", refere o decreto-lei.

A progressão aos 5.º e 7.º escalões sem estar dependente de vaga é permitida aos docentes que obtenham na avaliação as menções de "Muito Bom" ou "Excelente", mas continuam dependentes de quotas, à semelhança do que acontece na generalidade dos trabalhadores da Administração Pública.

Contudo, estas notas que permitem uma progressão mais rápida ficam dependentes de o docente solicitar a observação de aulas.

Governo sublinhou ontem que a lei da função pública vai sobrepor-se ao ECD

Durante a revisão do Estatuto da Carreira Docente, o Governo chegou a apresentar aos sindicatos uma versão deste diploma completamente diferente da que estava a ser negociada, com várias referências à lei da função pública, mas acabou por retirar a proposta.
Fonte: Educare

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Escola e a Família - Daniel Sampaio

(...)
O meu argumento é outro: não estaremos a remediar à pressa um mal-estar civilizacional, pedindo aos professores (mais uma vez...) que substituam a família? Se os pais têm maus horários, não deveriam reivindicar melhores condições de trabalho, que passassem, por exemplo, pelo encurtamento da hora do almoço, de modo a poderem chegar mais cedo, a tempo de estar com os filhos? Não deveria ser esse um projecto de luta das associações de pais?
(...)
Por isso entendo que a proposta de alargar o tempo passado na escola não está no caminho certo, porque arriscamos transformá-la num armazém de crianças, com os pais a pensar cada vez mais na sua vida profissional.
(...)
Gostaria, pois, que os pais se unissem para reivindicar mais tempo junto dos filhos depois do seu nascimento, que fizessem pressão nas autarquias para a organização de uma rede eficiente de transportes escolares, ou que sensibilizassem o mundo empresarial para horários com a necessária rentabilidade, mas mais compatíveis com a educação dos filhos e com a vida em família.Aos professores, depois de um ano de grande desgaste emocional, conviria que não aceitassem mais esta "proletarização" do seu desempenho: é que passar filmes para os meninos depois de tantas aulas dadas - como foi sugerido pelos autores da proposta que agora comento - não parece muito gratificante e contribuirá, mais uma vez, para a sua sobrecarga e para a desresponsabilização dos pais.

Daniel Sampaio, Público
Fonte: Terrear

sexta-feira, 19 de março de 2010

Dia do Pai


O Pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois… Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar… E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
… menino, meu menino…

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda, in “Crepusculário”

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O texto inimigo


O Fim da Linha

Mário Crespo

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado em (1/2/2010) na imprensa.
Nota: Texto encontrado no Instituto Francisco Sá Carneiro
Este é o texto que não foi publicado... O descaramento continua ... Até quando... Será que...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Consequências do Acordo ME/Sindicatos

"João Dias da Silva, líder da Federação Nacional dos Sindicatos da Educação, destacou o fim da divisão da carreira e a possibilidade de progressão de todos os docentes como os principais pontos positivos. "O nosso objectivo, na quinta-feira, era chegar a um acordo e fazer tudo por isso. Mas tinha que ser um acordo que permitisse aos professores passar para uma situação melhor" (...) o "sim" da FNE aconteceu já a rasar a meia-noite quando, de volta à sala da FNE, Isabel Alçada se "mostrou disponível" para deixar em acta que, "na construção da solução final, se procuraria melhorar as condições de transição do antigo para o novo ECD" (estatuto de carreira docente)."
Consequências do acordo:

- Mais vagas - antes, só 30 por cento dos professores chegavam ao topo da carreira, agora todos poderão chegar.

- Carreira única de 10 escalões - sem categorias hierárquicas, mas com dois estrangulamentos na passagem para o 5.º e para o 7.º escalão: as vagas anuais até 2013 ( inicialmente o ME só fixara estas percentagens para 2010) são respectivamente de 50 e 33 por cento. Em relação ao primeiro documento do Ministério, regista-se nesta último caso uma dilatação de 30 para 33 por cento.

- Bom para Muito Bom em três anos - Os docentes são classificados numa escala de 0 a 10. O "Bom" vai de 6,5 a 7,9. Em três anos, com a compensação acordada, um docente classificado com 6,5 terá uma nota de 8, equivalente a um "Muito Bom", ficando assim garantida a sua passagem de escalão, uma vez que no novo ECD se estabelece que os docentes classificados com esta nota ( ou com Excelente) progridem, independentemente da abertura ou não de vagas.

- Excelente e Muito Bom com progressão automática - a progressão automática ao 5º e 7º escalão dos docentes que obtenham classificações de mérito não incidirá sobre a percentagem de lugares disponível - não retiram lugares aos que só podem progredir por vagas.

- Prova de Ingresso na Carreira - obrigação da realização de uma prova de ingresso na profissão. Ao contrário do que acontecia ma primeira versao, ficou fixado que esta obrigação não abrangerá aqueles que já tenham exercido a docência, como é o caso dos professores contratados.

- Observação de aulas - ficou decidido que o responsável pela avaliação terá que observar aulas dadas pelo avaliado na passagem para o 3º e 5º escalão. Quem se candidatar a classificações de mérito terá também aulas observadas, uma disposição já contida no “simplex” da avaliação que entrou em vigor no ano passado.

- Ciclo de avaliação de dois anos - Os ciclos de avaliação serão de dois em dois anos, tendo na base um relatório de auto-avaliação.
- Objectivos Individuais - A entrega de Objectivos Individuais será voluntária, mas quem se candidatar a classificações de mérito terá que o fazer. A avaliação sera decidida por um juri constituído no âmbito do Conselho Pedagógico e presidido pelo director da escola.

- Concurso de Professores - no próximo ano será aberto novo cocurso para a colocação de professores.
Fonte: Público